Second Chance

Sinto como se não conseguisse respirar... esta culpa me consome a cada dia. Poderia ter sido diferente... porquê ela? Porque eu tenho de ser tão covarde?
Me sinto a pior pessoa do mundo. Pensando que ela se foi por minha causa... se já pensei em acabar com a minha vida? Já, já pensei. Mas eu tenho medo... medo de sentir dor... medo do que me espera do outro lado...
Kami-sama realmente é engraçado quando se trata de punir as pessoas...
Apesar de já se terem passado dois anos eu me lembro como se fosse ontem... Eu estava sentado no chão, com os pés e as mãos amarradas assistindo ao assassinato da minha melhor amiga. Não consegui fazer nada, nem mesmo chorar, eu estava em choque...
Eu me sinto a pior pessoa do mundo.
- Kyoichi! Você não me ouve garoto? - a voz da minha mãe me despertou dos pensamentos.
- D... Desculpa mãe... - me sentei na cama - Você me quer dizer alguma coisa?
- Quero... Hoje á noite eu vou a uma reunião da agência. O jantar está no microondas e tem sumo na geladeira.
- Humm... - olhei para o relógio, eram dezanove horas - Tudo bem. A que horas você chega?
- Provavelmente amanhã ás oito e meia da manhã... - ela sorriu. - Se cuida, viu? - e dito isto ela saiu do meu quarto e fechou a porta.
Já não era a primeira vez que eu ficava sozinho em casa a noite toda, mas, estranhamente hoje eu estava com medo. Com tanto medo que cheguei a suar frio. Mas que raio se está passando comigo?
Me levantei e fui tomar um duche, vesti o pijama e dexi para a cozinha.
Enquanto a comida aquecia, sentei-me na cadeira a olhar para as paredes. O silêncio tomava conta do local. Fechei os olhos por um momento e o sinal do microondas apitou avisando que a comida já estava quente.
Fui buscar o prato e comecei a comer.
Depois arrumei a cozinha e voltei para o meu quarto.
Decidi ir dormir pois estava com uma dor de cabeça super irritante. Desliguei tudo, fechei a janela e me deitei.
- O que você está fazendo? - fui correndo até Yume e me sentei ao seu lado.
- Me disseram que se eu dançar assim uma fada vai vir realizar meu desejo! - Yume sorriu para mim e continuou com aquela dança estranha.
- E qual é o seu desejo? - perguntei.
Yume começou a fitar o chão e as suas bochechas estavam rubras.
-Se uma fada chegar e realizar meu desejo aí você vai saber!
Mas, naquele dia, quem chegou não foi uma fada... E também não trouxe alegria...
- ME SOLTA! - Yume se debatia, no entanto, sem sucesso. Ela gritava pela minha ajuda. E o que eu fiz? Fiquei sentado no chão, em estado de choque, assistindo a minha melhor amiga ser estuprada e assassinada... Se eu estivesse no lugar dela, aposto que ela viria me ajudar... Eu não mereço o chão que piso, não me mereço o ar que respiro... Eu não mereço nada além do sofrimento...
Senti um pouco de frio e me levantei. Estava todo suado. Olhei para o relógio: três e trinta da madruga.
A janela estava aberta e eu aproximei-me para a fechar mas vi que, sentada nela estava uma garota. Cabelo grisalho, enorme e liso. A sua pele parecia bastante pálida, vestia um traje smoking branco e estava descalça.
- QUEM É VOCÊ? - gritei - SAIA DAÍ OU EU CHAMO A POLÍCIA!
- Calma garotinho... - ela saiu da janela e veio caminhando em minha direção - Não sou um ladrão. Prazer, Ringo Levia, uma Shinigami...
- NÃO ZOA COM A MINHA CARA! - tentei agarrar o pulso dela mas ela se desviou.
- Você irá morrer daqui a uma semana... Assassinado... No entanto há uma maneira de evitar isso. Eu posso estar indo contra as regras do mundo Shinigami mas não acho que você deva morrer agora...
- Porque você não acha que eu deva morrer agora?
- Porque eu gosto de você... - ela me abraçou.
Mas que raios?
- Me prove que você é uma shinigami!
Ela sorriu e me largou. Depois tirou uma rosa negra do bolso, girou-a entre os dedos e a rosa se transformou numa foice.
Caí de joelhos no chão. Então o que ela disse não era mentira? Eu vou morrer mesmo daqui a uma semana? Eu não sei se hei-de te medo ou se hei-de ficar aliviado...
- Está com medo? Não é preciso se preocupar... Eu disse que ainda há uma maneira de evitar que você morra!